domingo, 22 de agosto de 2010

Originalidade

     Lembra-nos Antonio Candido:


     “Dizia o velho Fernandes Pinheiro, nas Postilas de retórica e poética, que ‘os homens têm quase as mesmas idéias acerca dos objetos que estão ao alcance de todos, sobre que versam habitualmente os discursos e escritos, constituindo a diferença na expressão, ou estilo, que apropria as coisas mais comuns, fortifica as mais fracas e dá grandeza às mais simples. Nem se pense que haja sempre novidades para exprimir; é uma ilusão dos parvos ou ignorantes acreditarem que possuem tesouros de originalidade, e que aquilo que pensam, ou dizem, nunca foi antes pensado, ou dito por ninguém’.”

     Ufa, sinto-me mais aliviado…

sábado, 21 de agosto de 2010

Pena de morte

Mapa de países com pena de morte. Legenda:


Azul - Abolida para todos os crimes;

Verde - Legalizada para crimes cometidos apenas em circunstâncias excepcionais (p.ex.: crimes cometidos em tempo de guerra);

Laranja - Abolida na prática, mas legal.

Vermelho - Pena de morte legalizada.
 
     Há alguns dias, vi um filme muito interessante que discutia o tema. Muitos devem conhecê-lo, eu mesmo tenho recordações de tê-lo visto algum dia, mas só dessa vez parei para prestar atenção. O nome do filme no Brasil é "Os últimos passos de um homem" e lá nos EUA é "Dead man walking". Conta a história de uma freira que tenta livrar um condenado da pena de morte. Não obtendo sucesso em salvar seu corpo, a irmão se esforça em salvar a honra e a alma de Matthew Poncelet.
     Se não bastassem as indagações religiosas colocadas sobre a mesa (afinal, onde fica o "Não matarás"?), temos um conflito ético profundo. Desde que a vida foi declarada um bem absoluto e universal, a pena de morte é tratada como um violação dos Direitos Humanos por muitos países democráticos (no mapa, percebemos que praticamente toda a Europa a aboliu e também países como o Canadá e a Austrália). Mesmo assim, metade da população mundial vive sob o medo de ser morta pelo próprio Estado.
     Mais recentemente, as discussões voltaram à mídia por conta da condenação de uma iraniana por crime de adultério. Enfim, é de minha opinião que não podemos continuar vivendo no "olho por olho, dente por dente". Apesar de eu não ser lá o melhor amigo e Jesus, acho bacana a crítica que ele fez a esse sistema.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Os medos de Adolf Hitler

     Que ele era um homossexual reprimido e um artista frustrado, disso já sabíamos. Porém, o que amedrontava o líder do Terceiro Reich?

     Eu não sei ao certo. Mas alguma coisa o levou a declarar o seguinte em relação à Elizabeth Bowes-Lyon, mãe da atual rainha da Inglaterra: "ela é a mulher mais perigosa da Europa".

     Seria um típico caso freudiano?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Beijo gay em horário eleitoral

     http://www1.folha.uol.com.br/poder/785069-candidato-do-psol-em-sao-paulo-exibe-beijo-gay-em-horario-eleitoral.shtml

     Acho que isso demonstra a evolução (apesar de lenta) da mentalidade dos partidos políticos e da sociedade em geral em dar visibilidade a tal temática. Mesmo sendo os partidos de esquerda tradicionalmente aliados das minorias, cenas como essas são inéditas em nosso país. Meus parabéns ao PSOL pela atitude.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Reflexões sobre a questão gay - Parte I

     Há um tempo, deparei-me com o seguinte livro: "Reflexões sobre a questão gay", de Didier Eribon. Uma interessante obra, da qual pretendo apresentar e discutir, da forma mais sucinta possível (porque, afinal, sobre tal tema poderíamos escrever páginas e páginas sem o esgotar), cada capítulo. Aqui, começarei comentando o prefácio do livro. Porém, sinto que devo dizer umas palavras primeiro.

     Este post tem dois motivos de ser. O primeiro deles, pessoal, bem egoísta mesmo: ter um mero registro de uma leitura que fiz num determinado momento. O segundo é tentar acrescentar algo à discussão sobre sexualidade no mundo virtual, que por vezes fica num padrão monótono, do tipo: "preconceito é feio" ou "eu odeio gente que odeia gay" ou "meu direito começa quando acaba o do outro". Não estou dizendo que são inverdades, só quero frisar que o que parece óbvio (ou absurdo) - sim, mesmo o óbvio (ou absurdo), que pode não ser tão óbvio (ou absurdo) assim - deve ser analisado, criticado, avaliado, repensado. Tentar participar de debates e blogues parece um caminho para o diálogo.

     Começo, assim, pelo prefácio (que dividirei em dois) do livro.

     O autor toma como partida uma página de Proust:

     E, no entanto, Deus sabe como o Sr. de Charlus não gostava de sair com o Sr. de Vaugoubert. Pois este, de monóculo no olho, contemplava de todos os lados os rapazes que passavam. Mais ainda: liberando-se quando estava com o Sr. de Charlus, fazia uso de uma linguagem que o barão detestava. Punha todos os nomes de homem no feminino e, como era muito imbecil, julgava esse gracejo bastante espirituoso e não deixava de rir às gargalhadas. Como, a par disso, era enormemente apegado a seu posto diplomático, os modos zombeteiros e deploráveis que ostentava na rua eram interrompidos constantemente pelo susto que lhe causava no mesmo momento a passagem de pessoas da sociedade, mas sobretudo de funcionários. “Esta pequena telegrafista - dizia, cutucando o barão carrancudo -, já me dei bem com ela, mas a velhaca resolveu mudar de vida! Oh! aquele entregador das Galerias Lafayette, que maravilha! Meu Deus, aí vem passando o diretor dos Assuntos Comerciais. Tomara que não tenha notado o meu gesto! Seria capaz de falar nisso ao ministro, que me poria em disponibilidade, tanto mais que também é uma”.

     Logo, o autor já aponta para o caráter temporal do episódio. Oras, será que é muito diferente hoje em dia? Quantos não falam no feminino de si mesmos ou dos rapazes que passam, mas controlam os gestos e as expressões tão logo cruzam com um colega ou um conhecido?
     Percebendo no texto de Proust que os homossexuais "se defendem" do que é exterior, o autor lançará o questionamente: "os homossexuais são um grupo particular, uma minoria específica, ou são indivíduos como os outros, exceto pelo fato de que não têm as mesmas práticas sexuais? (...) E não será a multidão inumerável de laços do mesmo gênero que tece a rede daquilo que Proust considerava a 'maçonaria' dos 'sodomitas' e que hoje designaríamos como a 'subcultura gay'?"
     Outro ponto importante apontado pelo autor no texto é a polaridade entre masculinidade e afeminação. Nítida em Proust e, para mim, também nos dias de hoje.

     Continuo a indagações de Eribon no próximo post sobre o tema. Até aqui, fica o seguinte:

     Há uma subcultura gay? Ou somos apenas indivíduos diferentes dispersos pela sociedade?

     Sim, eu acho que há. Hoje em dia, há uma tendência muito forte por parte de alguns teóricos de dissolver as minorias e as classes numa sociedade heterogênea, individualizada e tolerante. Porém, penso por alguns instantes sobre minha vida... Seria ela diferente, se diferente fosse minha sexualidade? Com certeza! A sexualidade é parte integrante do ser, da subjetividade. Até mesmo a não-aceitação dela faz com que essa subjetividade seja construída de uma forma e não de outra. O que vocês pensam?